Quando ela disse ‘vinte’ eu mudei de assunto, não havia esperança alguma para nós, só havia hoje, aquela noite, o livro que me pediu emprestado, disse que podia levar, que não precisava devolver, era um presente, algo de mim que ela podia ter, para guardar e ler. Gosto de permanecer assim em alguém, como algo que ainda tem significado, mesmo que seja uma música que há muito se parou de escutar e que de repente começa a tocar do outro lado do bar – sei que ela samba, sei que no seu íntimo me tira para dançar. Às vezes me escreve, cartas que eu gostaria de ter escrito, com aquele seu jeito de contar que parece riobaldo, diz que muda para São Paulo, que passa umas noites no meu sofá, que fez uma tatuagem onde disse que faria, que trocou o direito pela dramaturgia, o silêncio pela vontade de gritar. Pede o meu número de telefone de novo, mas nunca que me liga da rodoviária dizendo que acabou de chegar, que trouxe consigo uma mala pequena, cheia de poemas que ela tentou, mas não conseguiu sufocar. A última notícia que tive dela foi que fugiu com o circo, o que eu aprovo com um sorriso, imagino ela com seu nome de trapezista fazendo piruetas no ar. Foto: Paula Repezza/ ela: Polly Di.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
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