Você já me perdeu e me encontrou mais de uma vez. A gente já se reconheceu e fez que nunca se viu. Eu já bati na sua porta e você fingiu que não tinha ninguém. Você ainda guarda os meus poemas porque lê-los, às vezes, lhe faz bem. Eu deito na minha cama esperando quem não vem. Você se despe no seu quarto imaginando para quem. Quando toca a nossa música, muda de estação e eu também. Esqueci seu livro preferido, mas depois eu me lembrei. E li ele inteiro novamente para descobrir por quê. Estaciona em frente do meu prédio como se viesse me ver. Pergunta o que deu errado como se já não tivesse tentado responder. Comprei um de seus quadros, mas dei um nome nada a ver. Pendurei na minha sala, mas isso nunca vai saber. Você é muito mais artista do que eu jamais vou ser. Reduzo-me à minha insignificância escrevendo versos para você. Peço que publiquem só depois que eu morrer. Até lá é como se não tivéssemos mais nada para dizer. Acha que estou apaixonado por toda mulher com quem me vê. Mais até do que estive, algum dia, por você. Mas o que era para ser seu já lhe foi dado, igual nenhuma vai ter. Quem fez parte do nosso passado, nunca vai deixar de fazer. Imagem: Mariana Anghileri e Gael Garcia Bernal em cena do filme “O Passado”(2007, Hector Babenco).
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