Fazia tempo que eu não vinha aqui. Acho que pelo motivo errado, quando você cisma com algo não quer ouvir o outro lado, então a deixei falando sozinha e, pela mesma porta que entrei, saí. Não repare a bagunça, você diz. Uma taça esquecida sobre o aparelho de som: pergunto-me quanto teria bebido, que disco havia escutado até o fim, o que passava pela sua cabeça, que filme projetava no teto, será que apagou as luzes e se deixou ali? A cidade ainda é a mesma da sua janela, é o que observo, disse-lhe o nome de todas as ruas que podia se ver daqui, que caminho teria de fazer até a universidade, a estação de metrô mais perto – e até uma fita cassete com as músicas que deveria ouvir durante o trajeto, eu fiz. Você mudou o pano do sofá, a estante de lugar, tem um óleo sobre tela onde havia um cartaz de Fale com Ela, mas o cheiro ainda é o mesmo, dos seus incensos, das suas velas, que eu quase me convenço que foram acesos à minha espera. Eu sabia que me convidaria para subir, você que eu aceitaria, o que mais podemos fazer aqui se não colocarmos ‘o que sentimos’ em dia. Foto: Ricardo/ dela: Duda.
terça-feira, 27 de abril de 2010
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