A gente se deu um tempo. Escolheu lugares estranhos, ruas por onde nunca caminhamos, as salas de cinema com os piores filmes passando, de outro jeito acabaríamos nos encontrando. E rimos mesmo assim das tolices que escutamos, com muitas dúvidas a respeito de nós próprios e do gênero humano, às vezes de uma mediocridade que assusta. Acho que o amor nos protegia, no nosso mundo não havia as tragédias que tenho lido nos jornais todos os dias, ir para a cama era como fugir para uma ilha, colocávamos uma música e ela nos envolvia como se fossemos personagens de um filme que só a gente alugava, a única cópia que existia. Foi como abandonar o cigarro que me fazia companhia, passar a me preocupar com a quantidade de calorias que comia, estudar administração em vez de escrever poesia, no lugar de fazer amor matricular-se numa academia. Deu para conhecer uma garota, mas eu ficava pensando onde você estava depois que ela dormia, quando a gente conversava me vinha a cabeça o que me responderia, não estava sendo justo com a guria, pedi desculpas, mas ela não entendeu patavina nem podia: ela entrou por uma porta por onde você ainda não saíra. Soube que você viajou para lugares que sempre me dizia, estava vendo seu album de fotografias: em cada foto que você aparecia eu imaginava de que lado estaria, a pose que faria. Foto: Ricardo/ dela: Quel.
segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010
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