sábado, 10 de outubro de 2009

duas mulheres

para francine, regina, carla

Eu já estive aqui, isto é, já senti que era o fim, encontro-me no mesmo ponto de uma outra história, como se fosse um déja vu – não é assim que se diz? Só que desta vez sou eu quem se levanta da cama, quem não consegue dormir, é como se refizesse uma cena que ficou gravada só que na pele de outra personagem contra a qual antes eu me debatia: se é que me deram a chance de fazê-lo, faço o mesmo agora? – pergunto-me. Espero você acordar ou me visto devagar, um milhão de coisas passa pela minha cabeça: quem eu quis matar quando era eu no seu lugar, como eu quis morrer, meus amigos vão se lembrar, jurei que nunca mais deixaria acontecer. Mas você aconteceu – você que nada tinha a ver com o que aconteceu corre o risco de ser quem vai pagar, afinal. Se eu soubesse não tinha deixado que nos apresentassem, nem te olharia de cima abaixo como se quisesse saber o que me aguardava se eu me jogasse, como terminava aquela tatuagem que você tinha acima do púbis, minha boca salivava de curiosidade. Hoje eu acordei e seu corpo pesava sobre o meu, como se eu fosse sufocar, não tenho forças, não tenho mais como te carregar, eu sou assim mesmo – lembra como eu me impressionei com cada uma de suas tatuagens, uma mais linda que a outra, demorou para eu criar coragem, você me ajudou a escolher que desenho seria: uma borboleta que depois que pousasse nunca mais me deixasse. Pensei em fazer um café para nós, um carinho nos seus cabelos, dobrar suas roupas e guardar no armário, nada muito especial, nada que te faça perguntar se há algo errado, que eu precise fingir não ter escutado. Foto: Ricardo/ dela: Carla.

domingo, 4 de outubro de 2009

onde quer que esteja nesta noite

Acho que ninguém ficou no seu lugar, apenas troquei os lençóis, o cigarro pela goma de mascar. Estou vendo filmes num cinema completamente vazio, a essa hora do dia só você podia. Depois de algumas músicas já não quero mais dançar – e pensar que nenhuma noite terminava antes das seis. Não é difícil conhecer alguém e levá-la para casa, só esta semana foram três. Os nomes esqueci em algum lugar, no bolso de uma camisa, podem ter caído atrás do sofá. Não estou dizendo que exista muito mais do que isso, mas às vezes quando se roda durante um bom tempo por um mesmo caminho fica mais difícil de retornar. É verdade que não chegamos a nenhuma grande cidade, nenhuma em que quiséssemos morar, mas passamos ótimas noites – se me lembro bem – em alguns hotéis de beira de estrada, pensamos até em fazer um guia, anotamos nomes, fizemos pequenas cotações, tíramos mil fotografias, algumas não dá para publicar, não neste horário. Às vezes não faço força alguma, deixo-me levar como se fosse num carro cheio de grandes amigos e quando me vejo estou dizendo bobagens para um ouvido qualquer, algo mecânico e que tirei de um velho disco, apenas porque não terei a vida inteira e preciso aproveitar que ainda exista quem esteja alta o suficiente para achar meu papo atraente, sei que você age exatamente igual nesta noite – nesta noite onde quer que esteja. Onde quer que esteja nesta noite meu corpo a deseja. Quem foi embora? Quem ficou no seu lugar? Estou me fazendo perguntas antes dela acordar. Foto dela: Lady.