segunda-feira, 27 de julho de 2009

não me olhe assim

Não me olhe assim que eu me lembro de tudo o que já fizemos nesta cama e em outras e amanhã vai ser mais difícil ainda da gente se despedir. Esta era para ser a última noite e já faz quantas noites que estamos aqui? Foi você quem sugeriu ‘uma última noite’, disse que se o sexo era bom por que deveríamos abrir mão. Eu ainda te quero, mas não lhe darei outra vida que não esta, você ainda me quer, mas acha que é pouco; combinamos que não ter mais uma gaveta aqui para as suas coisas não a impede de vir, peço apenas que me avise antes de subir, para o caso de haver uma outra história rolando – não precisa fazer esta cara, se somos adultos, ajamos como tal. É natural que durante um tempo ainda fique com o seu cheiro, não posso fingir que não a respiro, mas o amor é uma coisa, outra é o desejo: pois quando penso numa boca ainda é a sua boca que eu beijo. Entenderei se suas pernas continuarem trazendo você aqui, não se muda um hábito da noite para o dia e você se acostumou com o meu corpo mais do que gostaria, também é como se tirassem uma parte de mim. Diz que se sente um pouco perdida, eu também, mas não nos esqueçamos, que foi porque seguimos com as nossas vidas que nós nos trombamos. Foto: Ricardo/ dela: Hellen.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

29 beijos

para ler de preferência ao som de 29 Beijos

Fiquei apenas uma hora, se muito. A festa era dela. Os amigos eram dela. Ninguém ali precisava me conhecer melhor, queria apenas dar-lhe um beijo, dizer que continuo por perto, que vi algo em minha última viagem que me fez lembrar dela, comprei e trouxe comigo, sabia que seu aniversário estava próximo, parece que foi há tanto tempo e você só fez vinte e três anos. Nem pudemos conversar direito, mas eu entendo, tinha de dar atenção a todos, combinaremos uma tarde dessas, tarde que há muito estamos nos prometendo – e pensar que eu te arrastava comigo para todos os lugares, os ‘meus’ lugares, aqueles de que gosto e quis que dividisse comigo, onde eu te mostrei os segredos que guardo em meio aos meus livros preferidos, disse coisas embriagado do desejo de te tocar profundamente, onde fizemos amor docemente; e cada dia se parecia mais comigo, tive medo que se parecesse mais do que era preciso, mas você se saiu melhor do que eu, vejo isso no modo como termina tudo com um grande sorriso, entendo os que se aproximam de você, os que estão em volta, que se apaixonam por você, eu já sabia antes como sei agora, de quando te ligava no celular perguntando se já estava a caminho, eu dizia não demora, tenho vinte e nove beijos pra lhe dar* – da música do novos baianos que eu gostava de tirar no violão e você me ouvir cantar, gritando mais que o moraes. Achei melhor sair sem me despedir, você ia de um lado para o outro, eu começaria a falar, a me explicar, só te atrapalharia, já fiz o que tinha de fazer, vi o que tinha de ver, alguns amigos que apresentei a você na sua estante, na música que tocava e até no seu jeito de falar e de ser, fechei a porta atrás de mim comovido por um dia ter prendido sua atenção, seus olhos brilharem, a boca na minha, posso me lembrar disso quando quiser. A noite estava fria, meu carro estacionado do outro lado da rua, mas você me alcançou antes que eu a atravessasse, abraçou-me de um jeito que não tinha feito naquela noite, a cabeça junto ao meu peito por alguns segundos no mundo, o cheiro dos seus cabelos me fez querer escrever sobre, este pequeno texto; não perguntou porque estava indo embora tão cedo, nem insistiu para que eu ficasse, apenas disse "espero lhe ver, lhe encontrar, tenho vinte e nove beijos pra lhe dar". Foto dela: Bárbara.

*verso da música 29 Beijos, de Moraes Moreira e Galvão. Ouça aqui.


terça-feira, 14 de julho de 2009

provocante

para vanessa gross

Estava aqui lendo os seus segredos. É que para mim eles estão todos publicados na sua pele de sol, na cor dos lábios e até no olhar que desvia do meu – bastou querer enxergá-los. Você nem se lembra da última vez em que te perguntaram algo além do número do seu telefone, sente-se um pouco enferrujada, muda de assunto desconfiada de que as palavras contenham armadilhas e que um sujeito como eu deve manipulá-las muito bem, mas eu não atiro para todos os lados, sei onde miro, por que e em quem. E eu lhe pergunto o que faz com este vermelho nos lábios se esta noite não beijarem ninguém e a tatuagem que disse que tem, para que ser tão colorida se seus olhos são os únicos que a vêem? Eu sei que sou como todos os homens, mas sei que sou como só eu posso ser também. Já sei o que te faz como todas as mulheres, mas me apaixono pelo que nenhuma delas mais têm. Se você queria que a vissem como é de verdade para que se esconder atrás de tanta maquiagem? Não estendo os meus braços por estender, mas apenas para saber se você vem. Será que já viveu tantas vidas assim para se arrepender de viver a única que tem? Eu não estou querendo colocá-la contra a parede, mas até que não é uma má idéia, pensando bem. Posso descobrir do que tem medo só pelo modo como respira. E eu lhe pergunto para que provocar todos os homens se não aceita que a provoquem também? Foto dela: Vanessa Gross.

terça-feira, 7 de julho de 2009

as paredes

Ela queria saber que nome eu dava ao que eu sentia por ela, o que havia entre nós. Não havia muito o que responder: ora, você simplesmente se acostuma com o corpo do outro, a hora em que ele chega, as idéias que te faz ter e nem quer pensar como será se amanhã não tiver onde se agarrar, com o que se proteger, mas ainda assim não dá o braço a torcer – faz-se de forte sem poder ser. Disse que ela era livre para ir, que eu não a impediria de se vestir e sair, foram suas pernas quem a trouxeram aqui. Mas como ela já estava nua e na minha cama, resolveu ficar. A esta hora da noite, deve ter pensado, nem saberia onde procurar. Fizemos então, desta vez sem nenhuma grande maluquice, apenas numa posição em que ela pudesse me olhar nos olhos, foi o que me pediu e eu atendi. Não sei o que ela pretendia ver, nem o que eu deveria disfarçar, não havia nada em jogo, apenas a vontade de jogar. A gente se impressiona um pouco, dá um tempo em outras histórias, fica imaginando como seria com aquela, até onde ela iria, depois que descobre como é, apaga a luz e tenta dormir, o mundo não precisa de vocês dois, não do que vocês sentem um pelo outro para existir. Na noite seguinte ela ainda está aqui, ainda se pergunta o porque de estarem juntos e vocês fazem mais uma vez como que para mudar de assunto. Foto: Ricardo/ dela: Quel.